Eu hoje queria ser...
um pouco mais de vento.
Subitamente sibilar
nos teus lábios de Mulher.
Definir a tempestade...
e o poder!
"Um barco esculpido
em sonho!
Velas de íris
e mastros de mãos.
Um pássaro nascido
em fogo!
Do meu ventre masculino
em lava!
Ave de asas vermelhas...
olhos distantes...
e bico tingido!"
Esta evasão
seguida de uma fuga.
Eduardo Leal em 8-5-80
quinta-feira, dezembro 29, 2005
terça-feira, dezembro 27, 2005
Foste
Foste amiga, musa, amante, mulher,
Rodopio de sentidos desejos,
Contigo me perdi num vale qualquer
Onde soprava a brisa de teus beijos!
Fui peregrino errante, sem mister,
No meio de searas e de brejos.
Fui ave de rapina e, sem querer,
Furtei o antídoto de meus pejos!
E tu, de doce olhar e terna graça,
Quiseste ser meu ninho, dar-me colo,
No abrigo protector desse rochedo.
Hoje és a minha fonte de desgraça;
Nenhum abraço teu me dá consolo
E a confiança deu lugar ao medo!
Rodopio de sentidos desejos,
Contigo me perdi num vale qualquer
Onde soprava a brisa de teus beijos!
Fui peregrino errante, sem mister,
No meio de searas e de brejos.
Fui ave de rapina e, sem querer,
Furtei o antídoto de meus pejos!
E tu, de doce olhar e terna graça,
Quiseste ser meu ninho, dar-me colo,
No abrigo protector desse rochedo.
Hoje és a minha fonte de desgraça;
Nenhum abraço teu me dá consolo
E a confiança deu lugar ao medo!
joão lopes
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Impossível
Procuro o que jamais posso alcançar!
Ao mais alto impossível eu aspiro;
Ergo a voz, e não cesso de berrar,
Mas nesse altar não se ouve o meu suspiro!
Não deixo do impossível invocar,
Porque é no impossível que eu me inspiro;
Depois de no impossível me inspirar,
A loucos impossíveis eu me atiro.
De meus olhos emanam ilusões!
Ilusão é esse altar onde não chego,
É também o impossível por que luto.
És tu o impossível dos pregões
Que eu solto nessas ruas onde prego
O amor que fez de mim um homem bruto!
Ao mais alto impossível eu aspiro;
Ergo a voz, e não cesso de berrar,
Mas nesse altar não se ouve o meu suspiro!
Não deixo do impossível invocar,
Porque é no impossível que eu me inspiro;
Depois de no impossível me inspirar,
A loucos impossíveis eu me atiro.
De meus olhos emanam ilusões!
Ilusão é esse altar onde não chego,
É também o impossível por que luto.
És tu o impossível dos pregões
Que eu solto nessas ruas onde prego
O amor que fez de mim um homem bruto!
joão lopes em 1988
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Mar nunca mais água
Habitantes de glórias infernais, obscenas,
macaquinhos que roem a casca do meu sorriso
e lambem os mucos que escorrem pelo tubo cerebral.
Fontes, fontanários e fome
de glândula lacrimal.
Estêrco que arrasta consigo, aos gritos
a natureza viscosa
dos meus dedos de lama e baba.
Que eu canto
(no tempo em que eu cantava)
o pólen, a brisa e a lágrima.
Lento o punhal explora
a couraça dos pequenos homens símios...
É o mar que se evapora
e seca toda a sua água!
Eduardo Leal em 2-1-1981
macaquinhos que roem a casca do meu sorriso
e lambem os mucos que escorrem pelo tubo cerebral.
Fontes, fontanários e fome
de glândula lacrimal.
Estêrco que arrasta consigo, aos gritos
a natureza viscosa
dos meus dedos de lama e baba.
Que eu canto
(no tempo em que eu cantava)
o pólen, a brisa e a lágrima.
Lento o punhal explora
a couraça dos pequenos homens símios...
É o mar que se evapora
e seca toda a sua água!
Eduardo Leal em 2-1-1981
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Na tua voz
Na tua voz discurso traiçoeiro,
Mas tão fiel parecia aos meus ouvidos,
Que me volvera os sonhos, já perdidos,
E os libertou do forte cativeiro.
Fez-me julgar o falso, verdadeiro;
E amar com toda a força dos sentidos,
Que amar assim, eu, nem nos tempos idos:
Da nascença ao momento derradeiro!
Nos teus lábios, um canto mavioso
Que me juraste com promessas vãs
E que traíste sem pudor algum.
O teu olhar, lindo, silencioso,
Que iluminava em todas as manhãs
Não me devolve, já, dia nenhum!
Mas tão fiel parecia aos meus ouvidos,
Que me volvera os sonhos, já perdidos,
E os libertou do forte cativeiro.
Fez-me julgar o falso, verdadeiro;
E amar com toda a força dos sentidos,
Que amar assim, eu, nem nos tempos idos:
Da nascença ao momento derradeiro!
Nos teus lábios, um canto mavioso
Que me juraste com promessas vãs
E que traíste sem pudor algum.
O teu olhar, lindo, silencioso,
Que iluminava em todas as manhãs
Não me devolve, já, dia nenhum!
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Que o Tempo não cansa
Que o Tempo não cansa
a força das marés...
nem esbate
a cor do céu
nem a frescura das manhãs...
como em nós...
cada dia que nasce
nascem novas formas
de conjugar o Amor!
Eduardo Leal em 1 de Julho de 2005
a força das marés...
nem esbate
a cor do céu
nem a frescura das manhãs...
como em nós...
cada dia que nasce
nascem novas formas
de conjugar o Amor!
Eduardo Leal em 1 de Julho de 2005
domingo, dezembro 11, 2005
O mel das pétalas
Mas porque nos nossos anos 80 os dias não se faziam só com os Amigos...
Por ti daria...
o mel
das pétalas
de meus dedos.
Pelos teus olhos
onde em partos
parte a tempestade.
Ou por teus lábios...
onde grita
o diabólico fogo
do humano paraíso.
Tu...
Primeiro evaporar
do orvalho
nas primeiras flores.
Mais pequeno que o vento
nos teus ombros
eu seria...
Manhã!
Por ti daria
o mel
das pétalas dos meus dedos.
Eduardo Leal em 20-7-1980
Por ti daria...
o mel
das pétalas
de meus dedos.
Pelos teus olhos
onde em partos
parte a tempestade.
Ou por teus lábios...
onde grita
o diabólico fogo
do humano paraíso.
Tu...
Primeiro evaporar
do orvalho
nas primeiras flores.
Mais pequeno que o vento
nos teus ombros
eu seria...
Manhã!
Por ti daria
o mel
das pétalas dos meus dedos.
Eduardo Leal em 20-7-1980
apaga a lua
Hoje apeteceu-me celebrar a amizade...
O poema curto que se segue foi escrito depois de uma das longas noite em conversa com os Amigos, quando no fim da festa dormíamos pelas casas em que dava mais jeito.
Pouco a pouco
apagámos as vozes
discutimos o silêncio
e gritámos:
Apaga a Lua!
Eduardo Leal em 3-4-1980
O poema curto que se segue foi escrito depois de uma das longas noite em conversa com os Amigos, quando no fim da festa dormíamos pelas casas em que dava mais jeito.
Pouco a pouco
apagámos as vozes
discutimos o silêncio
e gritámos:
Apaga a Lua!
Eduardo Leal em 3-4-1980
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Epílogo
O Eduardo começou pelo fim. Eu não o vou contrariar e faço o mesmo!
Quando um dia eu descer à cova escura,
Para subir, ou não, à eternidade,
Não quero um lamento de amargura,
Daqueles a quem eu deixar saudade.
Quando eu pousar à fria sepultura,
Que aqueles que me amaram de verdade
Entoem, bravamente e em grande altura,
Um hino que cante alto essa amizade!
Que gritem o amor que, em facho ardente,
Pousou na dura tumba do meu peito
(E aqui ficou pousado, eternamente);
Que cantem, mesmo os que não têm jeito,
Aqueles que me amaram bravamente,
Quando eu adormecer no eterno leito!
Nesse dia, ao pousar eternamente
Esta minha alma em espaço definido,
Rasguem-se em pranto os olhos dessa gente
(Os que na vida tanto me hão traído);
Que nessa hora o povo seja crente
Que eu só queria ser amado e não ferido,
Chore, pois, nessa hora, amargamente
Enquanto não se houver arrependido!
Desses que tanta vez me hão negado
O carinho e a amizade que eu pedi,
Não ficarei esquecido, nem magoado;
Dos que, nas horas duras que vivi,
Amargamente tanto hei falado,
Deus os perdoe, como eu os redimi!
E, aqueles a quem, bruto, hei magoado
Nas horas mais difíceis de tragar,
Como mendigo peço, ajoelhado,
Antes de ao frio pó eu regressar:
Que nessa hora tenham já perdoado
A minh’alma, o meu peito e o meu falar,
Que momentos difíceis hão causado
Quando, em mim, o amor fel estava a amargar.
E ao Céu elevo a voz e atiro ao vento,
Agora, antes do tempo ser já ido,
Que Deus dê muita força e alimento
Aqueles a quem, bruto, eu hei ferido;
Que lhes dê a recompensa no momento,
Aquela que eu não dei enquanto vivo!
E a quem, em vida, amei com muito alento,
Que seja, no momento derradeiro,
Possuído por esse sentimento,
Que, em tempos, ateara o meu braseiro.
Nessa hora se esqueça o meu talento,
Que nunca foi engenho verdadeiro,
Que de tudo se esqueça o pensamento,
Até do amor que foi mais traiçoeiro!
Que a Justiça leal desça dos Céus,
Nessa hora se rasgue a fria tampa
Da tumba, onde descansam os restos meus,
E, que repouse sobre a minha estampa
A sentença que vem da voz de Deus...
— Quão será pesada funérea campa?
Quando um dia eu descer à cova escura,
Para subir, ou não, à eternidade,
Não quero um lamento de amargura,
Daqueles a quem eu deixar saudade.
Quando eu pousar à fria sepultura,
Que aqueles que me amaram de verdade
Entoem, bravamente e em grande altura,
Um hino que cante alto essa amizade!
Que gritem o amor que, em facho ardente,
Pousou na dura tumba do meu peito
(E aqui ficou pousado, eternamente);
Que cantem, mesmo os que não têm jeito,
Aqueles que me amaram bravamente,
Quando eu adormecer no eterno leito!
Nesse dia, ao pousar eternamente
Esta minha alma em espaço definido,
Rasguem-se em pranto os olhos dessa gente
(Os que na vida tanto me hão traído);
Que nessa hora o povo seja crente
Que eu só queria ser amado e não ferido,
Chore, pois, nessa hora, amargamente
Enquanto não se houver arrependido!
Desses que tanta vez me hão negado
O carinho e a amizade que eu pedi,
Não ficarei esquecido, nem magoado;
Dos que, nas horas duras que vivi,
Amargamente tanto hei falado,
Deus os perdoe, como eu os redimi!
E, aqueles a quem, bruto, hei magoado
Nas horas mais difíceis de tragar,
Como mendigo peço, ajoelhado,
Antes de ao frio pó eu regressar:
Que nessa hora tenham já perdoado
A minh’alma, o meu peito e o meu falar,
Que momentos difíceis hão causado
Quando, em mim, o amor fel estava a amargar.
E ao Céu elevo a voz e atiro ao vento,
Agora, antes do tempo ser já ido,
Que Deus dê muita força e alimento
Aqueles a quem, bruto, eu hei ferido;
Que lhes dê a recompensa no momento,
Aquela que eu não dei enquanto vivo!
E a quem, em vida, amei com muito alento,
Que seja, no momento derradeiro,
Possuído por esse sentimento,
Que, em tempos, ateara o meu braseiro.
Nessa hora se esqueça o meu talento,
Que nunca foi engenho verdadeiro,
Que de tudo se esqueça o pensamento,
Até do amor que foi mais traiçoeiro!
Que a Justiça leal desça dos Céus,
Nessa hora se rasgue a fria tampa
Da tumba, onde descansam os restos meus,
E, que repouse sobre a minha estampa
A sentença que vem da voz de Deus...
— Quão será pesada funérea campa?
domingo, dezembro 04, 2005
Homenagem a Mário de Sá Carneiro
Porque a Poesia tem lastro...
Porque os Poetas que somos, somos porque ouvimos os Poetas...
Esta é uma forma de homenagear Mário de Sá Carneiro, porque quando eu morrer...
Quando eu morrer
deitem-me ao lume.
Record’em mim
a chama toda
da vida
que eu já não tenha.
Depois...
soprem nas brasas,
misturem a morte inteira
na alma duma Videira!
Que um Homem
só se termina,
se a morte for a alegria
da festa duma vindima.
Eduardo Leal em 31-08-86 (já foi há tanto tempo!!...)
Porque os Poetas que somos, somos porque ouvimos os Poetas...
Esta é uma forma de homenagear Mário de Sá Carneiro, porque quando eu morrer...
Quando eu morrer
deitem-me ao lume.
Record’em mim
a chama toda
da vida
que eu já não tenha.
Depois...
soprem nas brasas,
misturem a morte inteira
na alma duma Videira!
Que um Homem
só se termina,
se a morte for a alegria
da festa duma vindima.
Eduardo Leal em 31-08-86 (já foi há tanto tempo!!...)
A nossa pena
Começa aqui, oficialmente, um novo blog. Dedicado a publicar os escritos poéticos, em verso ou em prosa de dois poetas. Sim, poetas, porque como diz o povo de poetas e loucos...
O Eduardo Leal e eu procuraremos, com a frequência possível, partilhar convosco esses escritos já perdidos em velhos baús de recordações e que verão, agora e pela primeira vez, a luz do dia.
Dos meus, que nunca tive grande jeito e para que lhes deêm o desconto devido, digo que foram escritos provocados pelas "paixonetas" dos meus 17 / 18 anos. Os do Eduardo estão melhor organizados e terão, quase sempre, a data em que foram escritos.
Como diz a pequena insígnia do cabeçalho este espaço conterá a pena, enquanto objecto de escrita e a outra retrata o fado humano.
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