terça-feira, maio 30, 2006

Fogo de amor

Num túmulo bem fundo e subterrado,
Onde jamais chegou a luz do dia,
Coloquei um fogo d’amor, que ardia
No peito, já p’las brasas consumado!

Cobri-o... e deixei-o sepultado;
Enquanto a chama a cinza consumia,
Senti a fuga da melancolia
Que antanho fez de mim um assombrado.

E quando o já julgava consumido
Senti que o fogo frio me queimava,
E a tampa, tenebrosamente, ergueu-se:

Ouvindo-se um sussurro e um gemido,
Aproximou-se o vento, de rajada,
E o fogo apagado, reascendeu-se!

joão lopes em 1988

quinta-feira, maio 18, 2006

Nem palavra...

Nem palavra; nem um sinal de vida;
Nem sequer da tua boca o fresco ar;
Nem tão pouco a luz linda desse olhar,
Nem breve adeus, naquela despedida!

Nada!... Estás longínqua, talvez perdida;
Nada!... Resta-me, apenas, o sonhar;
Nada mais, que em mim possa perdurar,
Senão o sonho e a chaga duma f’rida!

Nem sei se vale a pena a realidade:
Ter a luz de teus olhos, que me cega;
Ter-te aqui, a meus olhos, não sonhada!

Mesmo assim, não te tenho de verdade,
O que minh’alma quer, tua boca o nega;
Nem sei se quero a ti, se quero o nada!...

joão lopes em 1988

sexta-feira, maio 05, 2006

Sonhar

Navego no teu corpo turbulento,
Deslizo numa jangada perdida
Arrastada pela água e pelo vento,
Descendo vertiginosa descida.

Cavalgo no teu corpo contra o tempo
C’um cavalo de crinas cor de vida,
D’olhos grandes, da cor do sentimento,
Que corre em vertiginosa corrida.

Perco-me nos teus braços, não o nego!
Minha boca é abrasada por teus beijos;
Tudo isto é um sonho permanente!

Não me perco, cavalgo ou navego,
Mas, se o sonhos saciam meus desejos,
Então, quero sonhar eternamente!

joão lopes em 1987