sexta-feira, janeiro 27, 2006

Como o fogo e a palha...









Como o fogo e a palha ... assim se olham
na minha inquieta alma
o desejo e a calma...

Como o ar e a chama ... assim se dizem
nos sobressaltos do meu riso
a loucura e o siso...

E as pastagens dos meus rebanhos,
as águas quentes dos meus banhos,
são assim saudades,
mil desejos e vontades...

de cedo... ansioso e nunca breve
adormecer contigo,
no silêncio de quem ama,
lado a lado em tua cama...

Funchal, 27 de Janeiro de 2006

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Gasto meus olhos em ti

Gasto meus olhos em teu corpo lindo
E fico cego nesse louco olhar!
Já nada vejo e, tacteando o ar,
Perco minhas mãos nesse espaço infindo!

P’ra não te ouvir, sinistramente rindo,
Os meus ouvidos cessam de escutar
E o meu nariz suspende o inspirar,
P’ra não saber p’lo ar que tu vens vindo.

Piso a minh’alma, rasgo os meus sentidos,
Arranco deste ser o coração,
P’ra não voltar, jamais, o insano amor;

Atiro à terra os sonhos já perdidos,
Desfaço no meu ser toda a ilusão
Que outrora fez de mim um sonhador!


joao lopes em 1988

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Porque o tempo voa e morde...


A minha filha Joana...











Porque o tempo voa
e desfaz
os rápidos momentos de ternura
dos meus sonhos de rapaz...

Porque o tempo morde
e segura
as loucuras breves dos teus dedos
nos meus gritos de loucura...

E o tempo...
esse bicho ágil e febril
produz de quando em quando no teu seio
rios longos... águas mil...

e as águas... oceanos de aventuras
são a filha que geramos,
a semente que germina
as verdades e os enganos...

Porque o fim é afinal
a corda eterna do brinquedo...
o círculo mágico da vida,
esta trama e este enredo...

Sobre a Carmen... à minha filha Joana
Porto, 19 de Janeiro de 2006

terça-feira, janeiro 17, 2006

Deste Branco

Deste branco fica sombra
a tinta derramada,
todo o corpo consumido,
pela vaga esfarrapada.

Deste branco resta esperança
a pomba por voar.
Desse fundo dos teus olhos
a paz plena a conquistar.

Cor dos sonhos puros,
dos frutos proibidos.
Universo onde entrar
pela porta dos sentidos.

Espuma breve que perdura,
neve fria que me aquece
fugaz posse de quem foge
virgem pura que apetece.

De lá tudo
luz que cega na chegada.
P’ra lá tudo
luz que acalma na partida.
Berço e esquifo
eterno círculo,vida, morte e nova vida.

Eduardo Leal, 1993

sábado, janeiro 14, 2006

Tu

Ó luz divina! Ó bela melodia,
Que me queimaste com a chama quente,
E, ardendo nela, eu fiquei presente
Somente na cinza que ali ardia.

Tu, mais clara e bela que a luz do dia
E, tão clara, fazes a noite ausente;
Teu corpo vai falando eternamente,
Teu nome quer dizer sabedoria!

Quem és tu, afinal? És anjo ou mulher?
Da terra?! Se a terra não dá sequer
Um pouco dessa luz à Natureza.

És anjo puro, caído dos céus
E, ao ver-te, saciei os olhos meus
Com essa luz ! Oh bela, oh linda deusa!
joao lopes em 1988

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Veloz vai pelo espaço...

E se o Camões vivesse hoje?! Lembrar-se-ia de Leonor? ou trocaria os seus Amores pela formosa menina pela crítica ao mau da fita (tipo G. Bush)?

Veloz, vai pelo espaço
a nave de fibra pura.
Vai veloz e bem segura.

Leva na cauda motores
e nas asas reactores.
Tem farois de luz que encanta,
tão linda que o mundo espanta.

Leva lasers preparados
para os homens dominados.
Leva a guerra e a morte canta...
Tão linda que o mundo espanta!

Eduardo Leal, 1980

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Estranha embriaguez

Que estranha que era aquela embriaguez;
Não de vinho, ou outro álcool qualquer,
Mas dum fel tão amargo de beber,
Que me tirou, se eu a tinha, a altivez!

Aquela era diferente, e não me fez
Cantarolar, mas lágrimas verter
Não me deu mais visão, fez-ma perder
E a estes meus ouvidos deu surdez!

Não vejo, já, mais nada à minha frente,
E, se me falam eu torno-me ausente
P’ra depois não dar voz ao coração.

Oh! Que estranha! Oh! Que estranha era a bebida
Que eu traguei e amarguei na minha vida...
...No cálice do amor, bebi paixão!

joão lopes em 1988