quarta-feira, outubro 27, 2010

Pode ser que no princípio
fosse o teu corpo apenas…
Como se a fome toda nos silêncios se inventasse…
Pode ser…
que só por isso eu te amasse.

Como pode ser até
que ao mergulhar em ti,
nesse teu mar de riso e de palavras feito,
pudesse ser apenas eu
naufragando no teu peito .

Tudo começa por ser nada…
como se o caminho todo do desejo
fosse pedra em fogo
e cada um de nós
promessas por fazer… um logro…

Podemos ser tudo isso
que nada nos impede de ser nós…
Vivos nas mãos que se tocaram
nos beijos trocados por palavras
nos corpos que se amaram…

Podemos ser o fim…
O tempo gasto dos meus dedos
na procura do prazer dos dias
que nada nos roubará o gosto
que eu tinha quando rias…

Como se o meu princípio e o meu fim
fosse a cama em que deitavas
os teus olhos meigos, às vezes puros
e eu fosse o marinheiro apenas
nos teus mares inseguros.

Tudo pode ser…
porque amei em ti o vento
porque tive em ti o mar…
Nos teus lábios feitos sal
feitos mundo a inventar.

domingo, outubro 24, 2010

Haverá sempre palavras por dizer,

que se soltam no fundo dos teus olhos,

na malícia toda do teu sorriso

como se fossem todo o ar preciso.


São sentidos à procura doutros verbos,

outros dedos nos caminhos do teu corpo.

Notas soltas na tua pele macia

enquanto frágil eu inspiro cada dia.


Horas breves em que enfim encontro,

perdido nos teus lábios, quando riem,

trocando assim meus passos, já perdidos,

outro fogo que me dá novos sentidos.


É então que o tempo todo enfim suspende

a lógica improvável dos caminhos

e doce, infinitamente doce, insinua

este mar revolto nessa praia, nua.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Há uma ideia persistente

dentro de mim, noite e dia.

Que faz de mim um optimista

e que mantém a alegria.


E em cada desgraça que vejo

em cada momento de dor

não posso deixar de pensar

que podia ser bem pior…


Se um barco se encontra perdido

e vem à costa afundar…

podia ser bem pior

perder-se sozinho no mar.


E se vivo a tempestade

com os olhos cheios de mágoa

não posso esquecer esses rios

que as chuvas enchem de água.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Pergunto-me se sabes

os mistérios entre as linhas…

a fronteira ténue

entre o ir e o voltar…


Se ao menos quando olhas

imaginas,

para além do que é tão óbvio

todo o resto a desvendar.


Pergunto-me onde guardas meus segredos

e em que canto do teu colo,

nas conversas todas por fazer,

sonhando enfim me deito.


Como se o teu corpo fosse

doce dádiva a Apolo…

Como um barco a navegar

num mar perfeito.


Pergunto-me se entendes

o que penso apenas,

quando tornas em manhã

os desejos todos de um olhar.


E se os teus lábios,

como flores, como açucenas,

um dia se farão

outro lugar.

sexta-feira, outubro 15, 2010

No princípio desejei-te apenas…

e entrei nos teus cabelos

como se a nudez de todos os desejos

pudesse aí perder-se.


Senti nos dedos

a textura dos teus suspiros.

Segurei nos lábios

todos os sabores dos teus segredos.


Naufraguei nesse querer-te,

nesse mar assim profundo…

como se entrar em ti

fosse mais do que saber-me.


E fui com a corrente

no deleite de quem bebe

a água fresca da manhã…

No êxtase de quem respira

como se não houvesse futuro.

Na pressa de encontrar

todas as horas já ditas.


Descobri mundos diferentes

outras vontades de ser

como se outro em mim

apenas vivesse pra ter-te.


E depois…

porventura porque o espaço era pequeno…

encontrei apenas

o medo de perder-me.

terça-feira, outubro 12, 2010

É quando mais me queima o pó dos dias,
quando o barco se aproxima do naufrágio
como fim anunciado da viagem,
que o teu corpo mais me inspira.

Quando bela e distraída te anuncias
no passeio por onde vais, como quem dança,
indiferente aos estragos que a passagem
provoca no meu corpo, que transpira.

Porque és febre que me aquece e que m’excita,
que transforma a minha cinza em carne viva,
eu mergulho num segundo, num momento,
na espuma do teu mar, sem temer nada.

E não sei se é fortuna ou se é desdita
esta força que me dás, sem dares por ela,
este fogo que me serve de sustento
e consome a minha alma aprisionada.

sábado, outubro 09, 2010

Que não me roubem nunca
a luz de alguns dos dias
que gravamos na memória.

Para que eu possa,
em momentos de passagem,
rodando as horas entre os dedos...
descobrir as alegrias
de um tempo improvável.

Que escorram os meus olhos
na porta luminosa de uma casa
ou na felicidade simples de uma árvore.

Enquanto escuto o estalar da pele
nas carícias de uma espera
ou no canto matinal do pássaro
esticando a asa
num instante mastigável.

Que se cruzem todos os olhares
na rede mais aberta dos sorrisos
enquanto as estórias adormecem...

No momento em que os copos se levantam
sem brindes nem festejos,
apenas nas necessidades simples
nos gestos precisos...
das coisas naturais.

Que se misturem todos os ruídos
que o sol chama quando basta...
quando o tempo não tem preço.

Para que as crianças corram
livres de ter pressa...
para que as horas passem
nesta vela que se gasta...
Em momentos mais reais.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Quando passa
os meus olhos ficam nela.
E não sei se por malícia
ou só desejo...
não penso em nada mais
do que mordê-la...
abrindo esse diálogo
com um beijo.

Ela brinca
com meus olhos, na desgraça
do seu corpo
me prender em fantasia.
E ao sol,
aqui sentado, nesta praça...
vou sonhando acordado
em pleno dia.

Os seus lábios
que esta minha boca trinca
em delírios
com sabor quase real...
são as armas
com que o diabo pinta
a cor perfeita
do pecado original.

E o cheiro
que enlouquece até os sábios
desse corpo
onde quero acontecer
é um céu
à procura de astrolábios
entre o certo
e os mistérios por saber.

O corpo dela
é um pomar inteiro
a fruta toda
que desejo devorar.
É um mar
p’ra onde corre o meu ribeiro
só de vê-lo,
feito grande a transbordar.