sábado, março 25, 2006

Carrego teus odores

Carrego teus odores em meu regaço,
O hálito de teu corpo em minha mão,
Na vida de teus beijos me desfaço
No antro que há-de ser minha perdição.

Os sons que guardo, louco, neste espaço
Cavernoso e pulsante – o coração –
São como imagens eternas que abraço
Na resguardada esperança da ilusão

De te possuir um dia, outra vez,
Com todos os sentidos que me atam
às amarras do sonho já desfeito.

Há nas relíquias, ainda, a altivez
Das palavras que me ferem e matam
A esperança que alimentava o meu peito.

joão lopes

domingo, março 19, 2006

Verbo amar

Há um verbo que eu quero em abundância
Dizer hoje e sempre, na vida inteira,
(Fazê-lo suavemente, qual fragrância)
Na singular pessoa que é a primeira!

Um verbo que quero ouvir com muita ânsia,
Como se a hora fosse a derradeira,
Que o digas apartada de arrogância
E ao dizê-lo a alma seja verdadeira.

Há um verbo que quero no presente,
Como se ouvido no tempo passado
Não tivera o mesmo som a acolhê-lo:

Porque o amor no passado está ausente.
Pois que me vale a mim ter sido amado
Se hoje não sinto, nada, estar a sê-lo?

joão lopes

quinta-feira, março 16, 2006

Quisera um dia


Quisera um dia o sol não ter brilhado,
Eu perguntei-te, Lua, que era feito
Da luz que havia sempre iluminado
Um dia após o outro sempre a eito?

Esperei dessa resposta o resultado
Do que dirias tu desse defeito
E só ouvi um grito de soldado
Que parte para uma guerra contrafeito.

Não ouvirás de mim outro queixume
Das lembranças que guardo em relicário
De oiro, embebido de incenso e perfume.

Não brilhe mais o sol no santuário
da voz que trazes presa ao teu ciúme,
Nem Lua sejas mais no meu calvário!

joão lopes

quinta-feira, março 09, 2006

Vagueia o pensamento

Vagueia o pensamento que não larga
O teu sorriso lindo da memória
Que oculto no peito. Disseste, amarga,
O Adeus das vãs promessas de uma história

Escondida dos olhares, em velha adarga,
Que tingimos de tinta, amor e glória
Estéril. Sucumbe e apodrece na varga
O teu e o meu desejo de vitória.

O tempo não apaga o louco afã
Onde sufoca o condenado grito
Que não queres ouvir. Negro o véu e choras

A distância que entre a noite e a manhã
Existe. Fecha-me o céu, mata o mito
De dizeres ao ouvido que me adoras.

joão lopes

sábado, março 04, 2006

Fado da Vida breve

Tristezas não pagam dívidas
diz o povo com razão.
Porque vidas mal vividas
são pecados sem perdão.

Porque noites sem sonhar,
são como barcos sem velas.
São como querer navegar
e não ter ar para enchê-las.

Olha pra mim, fixamente
e lê o meu coração,
descobre nele a paixão.

E vamos os dois finalmente
reinventar a loucura
que a vida é breve, não dura...